Quarta-feira, 4 de Março de 2009

Suor e fantasia

A propósito deste post e da transcendentalidade da música ao vivo, vale a pena dar uma olhadela a Black and White Trypps Number Three, curta experimental do norte-americano Ben Russell do ano de 2007, que em 11 minutos vira a câmara para o público extasiado de um qualquer concerto dos Lightning Bolt, captando com um pormenor quase voyeurista os estados alterados do amontoado de gente que se junta nas primeiras filas. O que a música (e, vá, mais umas quantas substâncias) faz a um corpo...

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Lídia Gomes às 23:57
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Domingo, 2 de Março de 2008

O inferno é ali ao lado

Taxi to the Dark Side - vencedor do Oscar de melhor documentário - não é exactamente revolucionário. Mas é irrepreensível na denúncia, no questionar de um país que apregoa uma democracia que se percebe falsa e pútrida. A morte do taxista Dilawar é apenas um meio para chegar ao fim: as revelações dos abusos praticados pelos marines norte-americanos no Iraque, Afeganistão e Guantanamo, tudo em conluio com as altas instâncias do poder militar e político que permitem torturas medievais, constantes atropelos à Convenção de Genebra e esquecem demasiadas vezes o conceito de presunção de inocência. O documentário de Alex Gibney é incómodo sim. O que vale é que a partir de Novembro as coisas só podem melhorar.

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Lídia Gomes às 22:44
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Sábado, 23 de Fevereiro de 2008

Promessas (2)



Pale Young Gentlement (Pale Young Gentlement) e Once (Glen Hansard e Markéta Irglova)


Fábio Jesus às 14:17
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Segunda-feira, 18 de Fevereiro de 2008

Perdidos em Israel



Bikur Ha-Tizmoretprovavelmente A Visita da Banda, se algum dia vier a estrear por cá – bem que podia ser uma mais literal resposta israelita a Lost in Translation. Filmado com um micro-orçamento e oriundo de um país que produz pouco mais de uma dezena de filmes por ano, conta uma história simples: convidada a tocar na inauguração de um centro de arte árabe em Israel, uma banda policial egípcia desloca-se ao país, perdendo-se a caminho da cidade-destino e vendo-se obrigada a pernoitar numa localidade não muito longe, com o auxílio de dois amáveis habitantes locais.

 

O que se segue é um cru mas infinitamente tocante estudo de personagem, dirigido com uma sobriedade aplaudível por Eran Kolirin e ancorado numa interpretação notável de um Sasson Gabai a fazer lembrar Michel Piccoli em Je Rentre à la Maison. Kolirin não falha uma nota, fugindo à sentimentalização fácil e contrapondo-lhe um desarmante realismo, personificado na perfeição na personagem de Gabai, o atormentado maestro com uma imensa paixão pela música. A ver com atenção, dia 29, na vigésima oitava edição do Fantasporto

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Fábio Jesus às 18:55
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Segunda-feira, 4 de Fevereiro de 2008

Perdidos & Achados

David Wingo deve ser um bom garfo. Afinal de contas Ola Podrida, projecto do qual é frontman, é também uma iguaria típica de Espanha. Mas não obstante o aparente apetite pelo não convencional, tudo na música dos Ola Podrida é bem simples e límpido. Na senda dos demais cantautores norte-americanos, o homónimo de estreia da banda é parco em instrumentos, despojado de artifícios, seguindo um cânone quase imutável nas suas líricas transparentes mas inquietas.

 

Todavia, não se pense que o registo é monocórdico: o álbum é tão bom na folk solarenga de Day At The Beach ou Eastbound como na mais negra Pour Me Another. Pelo meio há Lost and Found, um verdadeiro single passível de airplay em qualquer rádio mais atenta. E de falta de atenção não podemos nós acusar o Teatro Académico Gil Vicente em Coimbra que no próximo dia 16 traz a Portugal, ainda que de forma amputada, uns Ola Podrida que assentaram arraiais na cada vez mais bem frequentada Brooklyn.

 

Mas muito para além do peculiar nome do projecto, o desconcerto de David Wingo e companhia parece omnipresente no clip de Lost and Found que merece desde já figurar no panteão da história dos clips bizarros. Porque me faz ter pesadelos com um tal de Ivan Dimitrov, guru das danças búlgaras, e o seu generoso "Síndrome de Falha de Santo André" no meio dos dentes. Vide abaixo.

 

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Lídia Gomes às 18:33
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Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2008

Os loucos dos anos 60



Mad Men, a série de Matthew Weiner sobre publicitários na Nova Iorque do início dos anos 60, é o arquétipo perfeito daquilo a que um inglês chamaria slow burning. Os episódios – os primeiros, de familiarização, em particular – decorrem a velocidade de cruzeiro, e não é difícil desistir, ao fim de dois ou três, chamando-lhe “chata” ou “desinteressante”. Aconteceu-me, aquando da primeira visualização. Recentemente, meio incentivado pelo mini-sweep nos cada vez mais dúbios Globos de Ouro (venceu nas categorias de Melhor Série Dramática e Melhor Actor Principal numa Série Dramática), decidi dar-lhe uma segunda e última oportunidade. Considerem-me redimido.


Sem rodeios, Mad Men é uma grande série. E não o é pelas razões habituais. O seu maior trunfo não é a história (apesar do argumento ser dos mais bem escritos que vi ultimamente), os diálogos (idem), as interpretações (apesar do elenco ser de primeira água), a realização (seguríssima, apesar dos constrangimentos espaciais que lhe são impostos) ou a banda sonora (discreta mas adequada, belíssima a espaços, coroada por uma mão cheia de grandes canções de outros tempos – a temporada termina ao som de Don’t Think Twice, It’s Alright, de Dylan).


Não, o que eleva Mad Men ao panteão das grandes séries é o ambiente. A atenção ao detalhe é espantosa. Os décors, o vestuário, os penteados, a forma de pensar e agir, a tecnologia, a ubiquidade do tabaco, enfim, os trejeitos da época, são capturados com uma precisão tremenda, de tal forma que, muito mais que sentir que estamos a ver uma obra ficcional situada nos anos 60, sentimos que estamos nos anos 60. Os sixties (o começo destes, pelo menos) são-nos apresentados como uma época a espreitar o futuro mas presa ao passado, ainda impregnada do racismo (pelo meio, alguém desdenha The Apartment porque às tantas lá aparece uma operadora de elevador branca) e da subjugação social e cultural da mulher (o adultério é frequente, sempre pelo lado masculino) de outrora.    

   

Jon Hamm – caído de pára-quedas num daqueles papéis que definem uma carreira – personifica Don Draper, o epítome do anti-herói irremediavelmente admirável, com a austeridade e perfeição de um relógio suíço. Draper é um homem complexo, inteligente mas atormentado, fascinante mas imperfeito. À sua semelhança, Mad Men é complexa, inteligente, fascinante e até, como tudo, imperfeita. Mas, tal como acontece com o protagonista, é impossível não a querer acompanhar.  


Fábio Jesus às 19:56
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Segunda-feira, 28 de Janeiro de 2008

O rei do Kong



A narrativa de The King of Kong foca-se no confronto entre dois homens com um objectivo comum: chegar ao título de recordista mundial de Donkey Kong, o primeiro de uma série de videojogos protagonizados por um certo canalizador italiano chamado Mario. Um deles detém o recorde desde os anos 80, é arrogante e tem o complexo de Deus do mundo dos jogos de computador; o outro, o desafiante, é um tipo afável, com uma família normal e uma paixão enorme por Donkey Kong, aliada a uma crença de que, se se esforçar o suficiente, pode ser o melhor. No muito bizarro universo deste documentário, o segundo é claramente o herói e o primeiro claramente o vilão, e é nesta dualidade que assenta todo o nosso interesse enquanto espectadores.


O que mais impressiona em The King of Kong é o quanto o comportamento destes homens e dos que os rodeiam espelham muito mais os que se esperariam de adolescentes do que dos adultos que são. Billy (o recordista desafiado), particularmente, age de forma estranhamente peculiar, declinando falar com Steve (o desafiante) quando este lhe pede, agindo nas suas costas e lançando estiradas do calibre de “work is for those who can’t play videogames”. Ao mesmo tempo, Seth Gordon (o realizador) joga com a nossa sensibilidade, pedindo que escolhamos uma posição – invariavelmente a de Steve – e fazendo o que estamos a ver parecer muito mais ficção do que a realidade.


Recheado de personagens caricatas, muito divertido e bem mais provocante do que aparenta, The King of Kong é um dos mais fascinantes documentários de 2007, e uma celebração do geekismo se alguma vez houve uma.


Fábio Jesus às 19:48
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Quinta-feira, 24 de Janeiro de 2008

Dizem que sim



Chamam-se Yeasayer, são um quarteto sediado em Brooklyn e edificam um tipo de música que denominam Middle-Eastern-psych-pop-snap-gospel, nome pomposo que, numa primeira audição, facilmente associamos àquela confusão lírica e instrumental que estamos habituados a adorar em actos como os Danielson ou os Animal Collective. Lançaram o primeiro álbum em 2007, pela We Are Free. All Hour Cymbals não é brilhante, mas é certamente auspicioso e tem o mérito de ter lá pelo meio um single fabuloso, que começa em modo de contenção e explode com uns sentidos Yeah Yeahs que não deixarão nenhum melómano indiferente. Nada melhor num dia em que nos foi dado a conhecer que a tournée de Primavera do pessoal da compota de morango passa, em Maio, por Lisboa e Braga.

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Fábio Jesus às 18:54
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Sexta-feira, 18 de Janeiro de 2008

Expiação



Tudo nele é competentíssimo, à semelhança do que havia acontecido com a excelente adaptação que é o Pride & Prejudice de 2005: a realização, a direcção de actores, a banda sonora e a fotografia são do melhor que se tem visto ultimamente.


Ainda assim, Atonement deixou-me frio. Joe Wright filma bem, é certo (vou continuar a aguardar para ver o que consegue fazer fora do nicho do filme de época), mas, ao segundo filme, parece ter-se acomodado. O build-up para a revelação final, com todas as suas descontinuidades temporais, é excessivamente (e não justificadamente) longo e parco em momentos altos e nunca envolve como seria de esperar, e assim ela perde grande parte do impacto, as cenas de guerra – que parecem ter sido ali enfiadas a martelo – são tão bonitas quanto inconsequentes e, no final de contas, fica-se muito mais com a sensação do que podia ter sido do que com a do que efectivamente foi. Esperava-se mais.

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Fábio Jesus às 23:43
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Quinta-feira, 10 de Janeiro de 2008

Se calhar só é preciso é ser-se muito bom

Não creio que os Radiohead quisessem dar a estocada final numa quase moribunda indústria. Simplesmente há bandas que se podem dar ao luxo de arriscar e trabalhar por sua própria e risco. A prova mais verosímil de que a música, quando excepcionalmente feita, quando envolta em culto, é vendável de qualquer maneira e formato, são as já admiráveis vendas de In Rainbows. Depois de invadirem os computadores ao desbarato, a edição física do sétimo álbum de originais dos Radiohead já açambarcou o primeiro lugar do top inglês e americano. Ainda há muito boa gente que paga para ter um objecto da marca Radiohead em casa. Dá que pensar a muito executivo engravatado. A indústria ainda não caiu mas já não estamos na presença de uma singela chapada de luva branca. Isto toma já proporções de enxerto de porrada.  

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Lídia Gomes às 23:45
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Terça-feira, 8 de Janeiro de 2008

Videojogos



Como qualquer jovem nascido nos anos 80 ou nos 90, cresci a jogar videojogos e fascinado por eles. Foi uma paixão que surgiu muito antes do cinema ou da música, numa altura em que tinha em alta consideração bandas como os Cartoons ou, cá dentro, os eternos Excesso, e achava que não havia nada melhor do que os filmes do Steven Seagal. E sim, tive um crescimento tão saudável quanto feliz, divertido a jogar fervorosamente preciosidades como Final Fantasy VII ou – recuando uns anos valentes – o Sonic the Hedgehog original da Mega Drive.


Toda esta introdução lamechas para dizer que o Discovery Channel cozinhou uma mini-série de cinco episódios que se propôs a explorar cronologicamente a história dos videojogos, percorrendo todo o período desde que William Higinbotham criou a primeira experiência interactiva de entretenimento de um computador com Tennis for Two (1958) até aos mundos virtuais interactivos de hoje em dia, como Second Life. Chama-se Rise of the Video Game e está longe, muito longe de representar uma visão definitiva sobre o (para muitos) surpreendentemente rico mundo dos videojogos, não deixando por isso de ser interessante, pedagógico e, à semelhança da matéria-base, extremamente divertido de observar. 


Onde Rise of the Video Game realmente falha é no género de abordagem que escolhe. Centrada num ponto de vista sociológico, a série perde-se frequentemente em analogias e paralelismos, com as várias Guerras ou com as mentalidades e disponibilidades psicológicas das várias gerações de jogadores, e quando o faz o interesse dá lugar ao tédio. Quando funciona, no entanto, Rise of the Video Game fá-lo muito bem. Qualquer gamer que se preze achará aliciante a possibilidade de escutar o que tem para dizer gente como Sid Meyer, Will Wright, Peter Molyneux ou Shigeru Miyamoto, lendas da indústria e visionários por direito próprio. Só tenho pena que alguns dos meus heróis pessoais do mundo videojogável, caso de Warren Spector ou Hironobu Sakaguchi, não marquem presença.


Rise of the Video Game é um retrato interessante se incompleto de uma indústria cujos lucros se preparam para ultrapassar os do cinema e da música combinados e tem o condão de nos deixar com o “bichinho” no fim de cada episódio. O que, por si, já vale uma recomendação.


Fábio Jesus às 22:36
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Sábado, 5 de Janeiro de 2008

Nas costas do cavalo



Brian Steidle, um ex-capitão dos marines norte-americanos, procurava um emprego. Um dia, encontrou na internet um classificado: dizia “patrol leader Sudan”. Pareceu-lhe bem, e agarrou imediatamente a oportunidade. Chegado ao Sudão, e após verificar a situação em que o país se encontrava, pediu que o enviassem para o Darfur. O impacto foi superior a qualquer coisa que pudesse ter imaginado: apanhado no meio de uma ‘operação de limpeza’ por parte do governo árabe em direcção aos habitantes negros do território, Steidle sentiu-se impotente. Não tinha armas, apenas uma câmara fotográfica, que usou para conseguir imagens tão privilegiadas quanto horríveis. Eventualmente, desistiu, voltando aos Estados Unidos com uma nova missão, a de alertar o país para as atrocidades que diariamente ocorrem naquela parte do globo e lutar para conseguir uma solução. Essa missão continua ainda hoje.


The Devil Came on Horseback é pungente, urgente e revoltante, um retrato aterrorizador do mundo em que vivemos. Visualização obrigatória.

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Fábio Jesus às 22:58
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Sexta-feira, 4 de Janeiro de 2008

Os ouvidos vão estalar

Quanto aos Bodies of Water, que aqui referi a propósito da minha lista de melhores álbuns do finado 2007, só posso dizer que são uma pequena maravilha. O álbum Ears Will Pop & Eyes Will Blink, esforço debutante destes califonianos festivos, só prova que hoje em dia, na chamada indie, de tudo um pouco se pode fazer. Estão aqui os Arcade Fire épicos e multi-instrumentais de Neon Bible, a negritude de um coro gospel e o ambiente do faroeste americano ou Tropicalia brasileira que nos trouxe os Mutantes. E até salpicos desse símbolo máximo do saloísmo que é Richard Clayderman aqui parecem acentar que nem uma luva.

 

Não abdiquem de visitar o myspace da banda e descobrir alguns dos temas de Ears Will Pop... e, como bónus, a melhor cover de Everybody Hurts alguma vez feita.

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Lídia Gomes às 14:41
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Quarta-feira, 2 de Janeiro de 2008

2007 em... televisão



Depois da música, é a vez d’Os Novos Pornógrafos olharem para a televisão e dizerem de sua justiça. Este brainstorming histórico resulta no primeiro post colectivo do blogue, desde a abertura das hostilidades em Março, e onde em dez pontos revisitamos o que mais nos divertiu, espantou ou emocionou no ano de 2007. Sem qualquer ordem de preferência:

 

Doppler Effect

 

Este será provavelmente o único balanço do ano que consagra uma onomatopeia. Baralhados? No universo de The Big Bang Theory, divertida saga de quatro geeks sobredotados e da sua airosa e loiríssima vizinha, o efeito Doppler é muito mais do que um termo físico, é pura comédia. E vendo Sheldon a “sonorizar” o dito efeito só atesta que a série foi a melhor sitcom a estrear na nova temporada. Ainda mais com aquele intro!

 

Barneyismos

 

Hot/Crazy Scale, Lemon Law ou a mais recente Platinum Rule juntaram-se aos clássicos Suit Up! e Haaaave you met Ted? para consolidar o Barney de Neil Patrick Harris como uma das personagens mais hilariantemente idiossincráticas da televisão actual e assegurar que How I Met Your Mother continua a ser uma das sitcoms favoritas cá do sítio.

 

Pushing Daisies

 

A improbabilidade de êxito de um CSI meets Tim Burton é, aparentemente, enorme. Mas the facts are these: é impossível ficar desapaixonado por um bom ambiente kitsch, situações nada convencionais e uma voz-off participativa e com um melodioso accent. Tudo resulta nesse primoroso conto de fadas que é Pushing Daisies, a melhor nova série a ver a luz do dia em 2007. Quem disse que já não existiam histórias de amor originais?

 



O Diabo

 

Ray Wise interpreta o Diabo de Reaper com um carisma desarmante e um charme ultra-cool que o tornam excepcionalmente divertido de observar e fizeram com que a série produzida por Kevin Smith faça parte parte do quarteto, com Burn Notice, Chuck e Avatar: The Last Airbender, de não-sitcoms que mais pura diversão me garantiram em 2007.

 

Season Finale de Lost

 

É o incontornável acontecimento televisivo do ano. O clímax de uma 3º temporada que começou aos tropeços mas que se foi erguendo, culminando num pasmante twist final capaz de apelar ao lado mais violento e impetuoso do espectador. Porque, quer se queira quer não, Lost continua a ser um fenómeno, desde o primeiro episódio.

 

A América de Ira Glass

 

Há tempos, considerava aqui This American Life uma das mais refrescantes de meio da época televisiva, e continuo impenetrável nessa opinião. Adaptando o seu próprio programa de rádio, Ira Glass pinta um retrato cru e muito real de uma América esquecida e ignorada, raramente retratada no pequeno ecrã. Venha a segunda temporada.

 



Jack Attack

 

É espantoso como Alec Baldwin renasceu e se tornou num finíssimo actor de comédia. A interpretação do Jack Donaghy de 30 Rock roça, muitas vezes, a insanidade, tão própria dos lunáticos de projectos megalómanos e que Baldwin personifica como ninguém. A cena em que Donaghy interpreta vários familiares e conhecidos de Tracy Jordan vale todos os Emmys e Globos de Ouro deste mundo.

 

Dexter Morgan

 

Uma nova espécie de herói para o Século XXI, Dexter Morgan (Michael C. Hall) evoluiu consideravelmente em 2007. A criatura sombria e alienada do início da primeira temporada transformou-se num Homem em busca da sua própria identidade, e Dexter tornou-se no produto mais rentável da Showtime. Neil Jordan tentou uma aproximação cinematográfica à problemática do vigilante em The Brave One, mas o produto final ficou a quilómetros-luz da criação de Jeff Lindsay e James Manos, Jr..


Half-Wit

 

Half-Wit, episódio da 3º temporada de House, anda à volta de uma das melhores questões da série. Afinal House é bom ou mau? Devemos acreditar no semblante sereno de quem toca piano com o seu doente ou na besta que finge uma doença mortal para seu próprio benefício? É esta bipolaridade que ainda confere todo o interesse ao doutor mais rezingão da TV. Mas House é tão melhor quando nos mostra o que há de pior no Dr. Gregory House…

 

Frisky Dingo

 

Uma descoberta de fim-de-ano, Frisky Dingo é mais uma proposta importada directamente do Adult Swim, o genial bloco de programação para adultos do Cartoon Network. Muito menos hit/miss do que Robot Chicken mas igualmente pouco convencional, insultuoso, violento e, acima de tudo, hilariante, Frisky Dingo foi a série que mais me fez rir no ano passado. E o que é o Joker à beira de um super-vilão como Killface?



Nota final para o estado periclitante em que actualmente se encontra a estação televisiva norte-americana da qual nos habituámos a exigir um padrão de qualidade superior. Os manda-chuvas da toda-poderosa HBO conseguiram a proeza de, num espaço de dois anos, acabar com todas as séries dramáticas que eram os bastiões da companhia. As super dispendiosas Deadwood e Rome não escaparam ao cancelamento prematuro, The Sopranos terminou em Junho um percurso que durava desde 1999 e a brilhante The Wire segue pelo mesmo caminho, já que os dez episódios da 5.ª época que começam a ir para o ar já este mês são também os últimos de toda a série.

 

Melhor sorte não tiveram os substitutos de 2007: John from Cincinatti – sobre a qual ainda não me decidi se não teve sucesso por ser demasiado inteligente ou precisamente pelo oposto – foi cancelada ao fim de dez episódios e Tell Me You Love Me dividiu a crítica e o público ainda que, vá lá, tenha sido renovada para uma segunda temporada. Resta esperar que In Treatment (ainda que se esperasse mais da HBO do que o fácil caminho do remake…) e a nova de Alan Ball, True Blood, façam jus ao padrão elevadíssimo de qualidade que o canal apresentava ainda há três ou quatro anos atrás.


Fábio Jesus às 23:02
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Sábado, 29 de Dezembro de 2007

2007 em... álbuns (2)


1. The National - Boxer

2. Radiohead - In Rainbows

3. Animal Collective - Strawberry Jam

4. Blonde Redhead - 23

5. Arcade Fire - Neon Bible

6. Jens Lekman - Night Falls Over Kortedala

7. Electrelane - No Shouts, No Louds

8. Wilco - Sky Blue Sky

9. Andrew Bird - Armchair Apocrypha

10. Feist - The Reminder

11. The Sea and Cake - Everybody

12. Sunset Rubdown - Random Spirit Lover

13. Bodies of Water - Ears Will Pop & Eyes Will Blink

14. Spoon - Ga Ga Ga Ga Ga

15. The Fiery Furnaces - Widow City


Consenso d’Os Novos Pornógrafos na escolha de Boxer como o álbum do ano. A coesão, o negrume e um punhado de canções maiores fazem do quarto registo de originais dos The National o acontecimento discográfico de 2007; In Rainbows dos Radiohead mostrou-se muito mais do que um ataque à indústria, firmando-se como o melhor álbum do colectivo liderado por Thom Yorke desde Kid A e o doce de morango dos Animal Collective foi o melhor exemplo de como experimentalismo e grandes melodias podem perfeitamente coexistir.

 

Contudo, comparando com a produção sublime de 2006, o ano discográfico de 2007 fecha-se com um certo travo a decepção. As desilusões ou os álbuns menos conseguidos ultrapassaram, infelizmente, em muito as confirmações (com Bloc Party, Bright Eyes, Interpol, Shout Out Louds e, de certa maneira, The New Pornographers, à cabeça), o que não invalida que este ano nos tenha brindado com uma boa meia dúzia de grandes trabalhos. Para a revelação do ano, entrego o galardão aos Bodies of Water e ao belissímo Ears Will Pop & Eyes Will Blink. 

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Lídia Gomes às 19:03
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Sexta-feira, 28 de Dezembro de 2007

2007 em... álbuns (1)



1. The National - Boxer

2. Okkervil River - The Stage Names

3. Sunset Rubdown - Random Spirit Lover

4. Arcade Fire - Neon Bible

5. Les Savy Fav - Let's Stay Friends

6. Dropkick Murphys - The Meanest of Times

7. LCD Soundsystem - Sound of Silver

8. Jens Lekman - Night Falls Over Kortelada

9. Miranda Lambert - Crazy Ex-Girlfriend

10. Andrew Bird - Armchair Apocrypha

11. Animal Collective - Strawberry Jam

12. Beirut - The Flying Club Cup

13. Richard Thompson - Sweet Warrior

14. The White Stripes - Icky Thump

15. Stars of the Lid - And their Refinement of the Decline


Sobre os três primeiros, pouco a acrescentar. Boxer foi o único álbum que me arrebatou por completo em 2007, foi muito provavelmente o que mais rodagem teve por estes lados e marcou finalmente a consagração dos The National como uma das melhores bandas da actualidade; The Stage Names é, a meu ver, o disco menos forte entre os últimos três da banda de Will Sheff, mas apenas porque considero tanto Black Sheep Boy como Down the River of Golden Dreams álbuns extraordinários; sou um enorme fã dos devaneios de Spencer Krug e camaradas nos seus múltiplos projectos e Random Spirit Lover, não sendo perfeito, representa mais um passo em frente e é o acompanhamento perfeito tanto para Shut Up I Am Dreaming como para Apologies to the Queen Mary.

 

De resto, entre confirmações (Arcade Fire, LCD Soundsystem, Jens Lekman, Beirut), surpresas (Dropkick Murphys, Miranda Lambert) e descobertas (Les Savy Fav, Richard Thompson, Stars of the Lid), olho para 2007 como um sólido ainda que longe de espectacular ano discográfico. E só tenho pena de não ter gostado mais de The World Has Made Me the Man of My Dreams, para poder mencionar aqui o nome da sua intérprete, Me'Shell Ndegéocello. Ora bolas.

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Fábio Jesus às 19:16
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Sábado, 22 de Dezembro de 2007

Dylans



Por esta altura, já todos sabem aquilo em que Todd Haynes transformou a sua ideia de fazer um biopic sobre o singular Bob Dylan: uma desconstrução da vida do popular cantor/letrista, dividindo as suas múltiplas personas e criando um filme de retalhos, se assim lhe podemos chamar, que desafia as regras do género sobrelotado e algo amorfo do filme biográfico, reinventando-o. São seis os actores, nos quais se incluem uma mulher e um miúdo afro-americano, usados para interpretar seis fases distintas da vida de Dylan, embora estes encarnem personagens – a estrela em negação para com o passado, o jovem sonhador, o actor em declínio e até o lendário Billy the Kid – que não têm qualquer ligação com a pessoa que representam; o nome Bob Dylan, aliás, não é proferido uma única vez ao longo de toda a película.


O produto final da ideia de Haynes chama-se I’m Not There e é uma obra fascinante, ainda que não completamente bem sucedida. Há momentos em que a ambição do realizador se confunde com pretensiosismo, o ritmo oscila e o filme, pura e simplesmente, não funciona. Há momentos em que nos acostumamos a uma das personagens, simpatizamos com ela e subitamente ela desaparece para dar lugar a outra, à qual temos novamente que nos habituar. O mais frustrante, no entanto, é que o filme não faz, nem dá a sensação de se esforçar para fazer muito sentido. I’m Not There aparenta ter sido feito sob o efeito de alucinogénios, mas na verdade foi meticulosamente planeado e montado com cuidado, resultando numa experiência que, à falta de melhores palavras, pode ser descrita como hipnótica.


I’m Not There beneficiará, não duvido, de múltiplas visualizações: é quase impossível, à primeira, apreender tudo aquilo que o filme tem para oferecer. Fãs inveterados de Dylan decifrarão com mais facilidade o que cada segmento oferece e aquilo que representa; os outros podem simplesmente relaxar e deleitar-se com a excelente música, a elevada qualidade das interpretações (Cate Blanchett, meus senhores, Cate Blanchett!) ou a realização superior, plena de simetrias e tecnicalidades deliciosas. I’m Not There não é nem tenta ser um filme fácil, mas é um que recompensa a audiência mais persistente, e concerteza não deixará ninguém indiferente.

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Fábio Jesus às 21:28
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Quinta-feira, 20 de Dezembro de 2007

A Pitchfork diz de sua justiça

Não é que eu seja refém das opiniões das revistas ditas especializadas, mas nesta altura do ano é incontornável dar uma vista de olhos pelo que pensam as publicações do ano discográfico que passou. Nesse campo a Pitchfork é particularmente completa: para além da lista geral dos melhores álbuns do ano, oferece-nos o Top-25 de cada um dos escritores da revista, a lista das melhores músicas do ano, bem como os preferidos de alguns dos honráveis da música da actualidade de onde se distinguem os Deerhunter, Of Montreal, Klaxons, Final Fantasy, Grizzly Bear ou The National.

Quanto às listas em si, as surpresas não são muitas. Folgo ver em lugares de destaque gente como os Radiohead, The National, Blonde Redhead, Animal Collective ou Jens Lekman e continuo a não perceber a obsessão da imprensa pelos Battles. Para ver as listas completas dos senhores do tridente passem por aqui

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Lídia Gomes às 19:42
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Sexta-feira, 14 de Dezembro de 2007

Leãozinho



Se há coisa que Lions for Lambs faz bem, é lembrar-nos que Meryl Streep continua a ser a Senhora actriz que era há vinte ou trinta anos atrás, tendo conseguido manter com desarmante facilidade ao longo das décadas uma constância que falta aos gigantes De Niro ou Pacino, porque o que resta é mediano no seu melhor, um filme recheado de ideais mas parco em ideias, desperdício dos dotes interpretativos de Streep, Redford ou Cruise. Se precisam mesmo de ver um filme marcadamente Democrático e anti-Bush sem rodeios, mais vale virarem-se para o excelente No End in Sight, que descreve, com detalhe e do ponto de vista dos protagonistas, o falhanço que foi e ainda é a ocupação do Iraque e a forma ineficaz como os Estados Unidos geriram os recursos de que dispunham, acabando em última análise por fazer do país um local pouco mais estável do que o era nos tempos do Regime de Saddam Hussein, e que é, esse sim, um dos filmes mais importantes do ano. 

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Fábio Jesus às 22:40
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Quarta-feira, 12 de Dezembro de 2007

The Black Sheep Boy

O Sound + Vision, de Nuno Galopim e João Lopes, iniciou hoje a publicação de uma entrevista com Will Sheff, a alma dos Okkervil River e o melhor letrista vesgo da actualidade. Vale sempre a pena descobrir o que pensa Sheff sobre a música, a arte e, claro, o mais recente dos Okkervil River, The Stage Names. Obrigatória a passagem por esta casa nos próximos dias.

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Lídia Gomes às 22:53
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