Domingo, 18 de Março de 2007

Less Than Zero (1985), Bret Easton Ellis

Los Angeles. Época de festas de um qualquer ano da década de 80. Clay regressa a casa por duas semanas depois de um semestre em Camden College, New Hampsire.

Este é o ponto de partida de Less Than Zero, romance de estreia de Bret Easton Ellis (com apenas 20 anos na altura da publicação), um dos autores maiores da chamada Generation X norte-americana. E é exactamente desta geração de jovens nascidos do baby-boom do pós-guerra que Ellis faz um retracto ácido, violento, muito ao estilo "soco no estômago".

Clay é, portanto, uma personagem tipo. Rico, jovem, alienado por um mundo perfeito na aparência mas podre no interior. Com a chegada à Los Angeles volta ao circuito das festas "Berverly Hillsianas", onde proliferam os consumo de drogas e os comportamentos sexuais ambíguos e onde convergem outras personagens: Blair, com quem Clay tem um caso mal resolvido; Julien, auto-destrutivo amigo de Clay que se tornou prostituto e toxicodependente e Trent, outro dos amigos de Clay, modelo, fútil, desprovido de qualquer moral.

Less Than Zero vai acompanhando as relações entre as personagens num mundo amoral, onde os valores tradicionais valem tanto como moedas de escudos e onde o escabroso parece normal. Neste sentido alguns momentos são particularmente chocantes como quando Trent mostra aos amigos um video onde com imagens de violações e mutilações e Clay parece o único incomodado com o conteúdo, quando Clay é obrigado a ver Julien prostituir-se e, a gota de água, quando os seus amigos atam uma jovem de 12 anos a uma cama e a violam repetidamente.

Estes comportamentos extremos, violentos e impunes levados a cabo por um grupo de jovens completamente alienados pela cultura niilista que os envolve, levam Clay a repensar a sua atitude enquanto elemento desse mundo. E tentando salvar o que resta de si e não cair definitivamente no vazio, fica no leitor a ideia de que no final das duas semanas de férias, Clay deixa Los Angeles para talvez não voltar.

Duro e incomodo, Less Than Zero é uma primorosa viagem à excessiva década de 80. De estilo simples e fluído, Bret Eston Ellis não tem medo de utilizar uma linguagem e um visualismo brutal. Contudo ficam por desenvolver algumas personagens como Blair ou o psicanalista do protagonista (mesmo assim, donos de alguns dos melhores diálogos da obra). Erros, no entanto, desculpáveis quando falamos de um romance de estreia e de um jovem autor de apenas 20 anos. 

 

9/10


Lídia Gomes às 22:34
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